A Hanseníase tem cura. O preconceito ainda não
Andréa M. Haddad e Marisa S. Oliveira
Estivemos no último mês com Albano Tadeu Venâncio, coordenador da Caravana Espírita Walter Venâncio, que nos contou sobre as visitações aos internos do Hospital de Hansenianos de Pirapitingui.
Tudo começou quando Walter Venâncio, pai de Tadeu, atuava no movimento espírita introduzindo nossa Doutrina na Penitenciária de São Paulo. Durante esta atividade, foi convidado por um companheiro de trabalho para visitar os internos de Pirapitingui. Lá chegando, notou que as pessoas viviam enclausuradas em suas casas, com janelas fechadas e sem saírem às ruas. Ficou sabendo que os doentes recebiam poucas visitas e que estas visitas, geralmente, constituiam-se de curiosos que lá compareciam para ver os “defeitos” dos doentes.
Impressionado, Sr. Walter dizia que os internos precisavam muito de ajuda e, a partir daí, passou a informar a respeito da doença, formas de contágio e cura, além de fazer palestras em Centros Espíritas incentivando as visitas. Movido por este propósito organizou a primeira caravana para Pirapitingui que recebeu o nome de Caravana da Fraternidade Jesus Gonçalves, em homenagem a este ex-hanseniano que tanto batalhou pelos direitos desses irmãos asilados.
Após o desencarne do Sr. Walter em maio de 91, o grupo se dissolveu por um tempo, até que em outubro de 94, após receber uma mensagem de seu pai falando sobre a importância das visitações no hospital, Tadeu, apoiado por sua mãe e outras pessoas amigas, organizou nova Caravana para Pirapitingui. Hoje a Caravana Espírita Walter Venâncio conta com um número superior a 150 pessoas de diversos Centros Espíritas.
Tadeu nos informou, também, que a hanseníase é quase não contagiosa, uma vez que as pessoas mais atingidas são aquelas que vivem em condições precárias de higiene e alimentação, pré-requisitos para se adquirir qualquer doença.
O contágio pode se dar pelas vias respiratórias (tosse, espirro, saliva) ou por lesões abertas em contato direto com o ferimento do doente. Mas para tanto, é preciso que haja um contato íntimo e prolongado com o doente, que a hanseníase seja do tipo Wirchoviana (um dos quatro tipos de hanseníase) e que a pessoa sã não possua os anticorpos para o bacilo de Hansen. Além disso, para que haja o contágio é preciso que o doente não esteja em tratamento, pois doente tratado não contagia.
Como podemos notar, a possibilidade de um contágio durante uma visita aos doentes é praticamente nula.
Segundo Tadeu, apesar de hoje a hanseníase ser uma doença tratável, os hansenianos ainda são rejeitados pela sociedade em virtude da falta de esclarecimento das pessoas que ainda carregam consigo o medo e estigma dos tempos bíblicos.
Não podemos deixar de destacar, que a parte espiritual também se faz presente no desenvolvimento da hanseníase através da lei de Ação e Reação. Visando resgatar débitos adquiridos em outras vidas, a pessoa reencarna sem as defesas naturais do organismo (os anticorpos), criando uma pré-disposição para contrair a doença e construindo, para si mesma, a precária indumentária física de que se faz merecedora.
Podemos ajudar os hansenianos esclarecendo as pessoas a respeito da doença e visitando esses irmãos nas colônias, levando-lhes palavras de conforto, sem demonstração de medo para que eles se sintam integrados na sociedade e para que percebam que não são mais discriminados como outrora e como alguns ainda hoje imaginam ser.
Os integrantes da Caravana Walter Venâncio se reúnem todos os 4.os domingos de cada mês e convidam os frequentadores do Núcleo Paz e Amor para conhecer este belíssimo trabalho.
Amor, hospitalidade, resignação e amizade são apenas algumas das coisas que a colônia de Pirapitingui nos oferece.