Doce Perfume
Pai João
Era mais uma manhã como outra qualquer, quando um ser humano apressado como sempre, dirigia-se ao encontro de seus afazeres.
Absorto em seus íntimos pensamentos, percorria celebre, os metros da calçada por onde caminhava, sem deles se aperceber, tais as preocupações que lhe ocupavam a mente.
Seus olhos, distraídos quanto às cenas que se desenrolavam ao seu redor, como se estivessem visualizando, tão somente, os horizontes que pretendia alcançar.
Em dado momento, porém, uma voz lamuriosa, mais parecendo um sussurro penetrar em seus ouvidos, arrebatando-lhe os pensamentos.
Tratava-se de um mendigo, coberto de andrajos que, suplicante, estendera-lhe as mãos, na esperança de receber a moeda que lhe amenizaria as agruras.
Naquele instante, inexplicavelmente, um inebriante perfume como que o envolvera, fazendo-o sentir-se impelido a tender aquela amargurada súplica. Porém, apressado, contrariando aquele inesperado e fraterno desejo, nada fizera, acelerando os passos rumo aos seus interesses, quando então aquele doce perfume, que a pouco houvera desfrutado, se desvanecera.
Mais adiante avistou um outro homem, quase desfalecido, estirado na calçada, cujo corpo desnutrido, faces pálidas e olhos tristes, sofridos, delatavam a miséria suprema que o abraçava, provocando compaixão em quem por ali transitava.
Naquele momento, a mesma suave e indefinível fragrância outra vez se fizera presente, fazendo-o sentir-se estimulado a tomar uma atitude, auxiliando aquela infeliz criatura, aliviando-lhe a desventura.
Todavia, ainda apressado, uma vez mais, desvencilhou-se daquele nobre e carinhoso desejo, instigando os passos em direção aos seus objetivos, quando então, aquele perfume envolvente e inesquecível novamente se dissipara.
Quando já se encontrava bem próximo de seu destino, eis que uma criança, a poucos passos, distraída e empolgada, pôs-se a atravessar a rua, atrás de uma bola, correndo iminente perigo, pois um veículo em irresponsável velocidade, vinha em sua direção.
Instantaneamente, sentiu aquele mesmo perfume, desta feita avassalador, impelindo-o a interceder, sem demora, em favor daquela criaturinha.
Numa fração de segundo, movido por uma coragem e piedade nunca dantes sentidas, correu em direção àquela criança, amparando-a em seus braços, salvando-lhe a vida.
De imediato, uma paz indizível dela se apossara fazendo-o desfrutar momentos de inolvidável aventura.
Asserenado, teve então a certeza de que aquela suave fragrância, que instantes atrás o envolvera, nada mais era do que o perfume de Jesus, assinalando Sua presença, estimulando-o a fazer pelos outros o que o Mártir do Calvário faria, se estivesse em seu lugar.
A partir de então, assim passou a agir e aquele doce perfume nunca mais o abandonou, fazendo-se presente em todos os momentos importantes de sua vida, acompanhando-lhe os passos, pelo resto dos seus dias.