Desconfiança
Pai João
Nos nossos dias, impelidos pelos instintos e pelos estímulos da matéria que nos envolve, sem nos darmos conta, vamos, pouco a pouco, colocando em nossos corações a incerteza, fazendo com que a desconfiança passe, gradativamente, a nortear os nossos passos.
O nosso ser, sutilmente, passa a ser envolto pela bruma obscurecida da desatenção, da falta de condescendência e compreensão e, às vezes, até mesmo do desrespeito e desconsideração, externando a desconfiança nítida que fez morada em nossa alma.
Nossos olhos, nossos ouvidos, nossa mente, atentos, vão adquirindo o lastro negregoso que nos torna especialistas em detectar os deslizes, as falhas, os equívocos e, portanto, as fragilidades daqueles que nos dão a caridade da sua companhia para, deles, nos valermos em benefício próprio.
Assim agindo, vamos fazendo com que nossas palavras, gestos, atitudes e mesmo nosso silêncio, sejam cobertos pelo tênue verniz da superficialidade, excluindo o tesouro da sinceridade, simplesmente para nos precavermos de eventuais riscos futuros que, por vezes, enquistamos em nossas mentes, como se fossem escudos a nos proteger de inimigos que somente nossa alma, desconfiada, supõe existir.
Olvidamo-nos, porém, de que, ao desconfiarmos, o maior equívoco está em nós mesmos, pois, egoisticamente, somente levamos em conta o que pensamos, o que deduzimos, sem nos atermos a que o nosso interlocutor também é um ser humano, possuidor de riquezas que não estamos sabendo avaliar e que, consequentemente, nos fariam crescer.
Assim sendo, nossos olhos perdem a candura, nossas palavras, a sinceridade, nossos ouvidos a paciência e, como consequência, todo o nosso ser vai se tornando impermeável às belezas do mundo, enregelando-se interiormente.
Nosso coração passa a exteriorizar o amor, somente para aqueles que amamos, para aqueles que compactuam com os nossos interesses, aptidões e pensamentos, negando aos demais, o doce perfume da fraternidade.
Por isto, aproveitemos todos os momentos que a vida, generosamente, nos concede, para fazer da sinceridade a nossa bandeira, externando-a com coragem, a todos aqueles que o Pai da Vida faz cruzar os nossos caminhos.
Entretanto se, em alguns momentos da nossa jornada, alguns corações não compreenderem a pureza das nossas palavras, atitudes e pensamentos, não nos decepcionemos, não nos entristeçamos, tendo sempre em mente que cada um oferece o que tem e nós, amorosamente, fizemos a nossa parte, ofertando ao próximo o tesouro da sinceridade, sem exigir ou mesmo esperar que façam o mesmo para conosco.
Para que nos sintamos cada vez mais motivados a assim agir, torna-se necessário que tenhamos bem nítido em nossa mente o testemunho legado há mais de dois mil anos pelo Divino Amigo, quando, mesmo martirizado no madeiro infamante, pôs em evidência para toda a humanidade a doçura e a sinceridade do Seu Amor, que se encontram latentes em nossos corações.