A grandeza das migalhas
Fernando Peron
Todos os segmentos da Ciência, desde a Química e a Biologia até a Geologia e a Astronomia, atestam quão lento e diligente é o trabalho da Natureza, em todos os seus processos. E sabemos que em nossa evolução espiritual o mesmo se dá.
Sabemos, mas nem sempre conseguimos, pelo raciocínio e pela consciência, abarcar toda a profundidade da questão, talvez por falta de reflexão adequada. Os que atingem este entendimento supremo, tornam-se altamente tolerantes para com a vida e com o próximo: são os sábios, aqueles espíritos tão mais evoluídos que servem de exemplo a nós, que ainda levamos tombos espetaculares na ignorância.
Tudo ocorre por etapas e não podemos burlar a sequência natural do aprendizado, pois isto é lógico, justo e está contido nos Estatutos das Leis Universais – os mesmos que regem a Química, a Biologia, a Geologia e a Astronomia, aos poucos desvendados pela inteligência humana.
É necessário que valorizemos, portanto, cada ação menor que possa promover nossa iluminação interior. A gentileza na via pública, por exemplo, não é mera formalidade, mas um investimento digno de autoeducação. Esta conquista primária nos exercita para a paciência no ambiente familiar (onde passamos por provas decisivas ao nosso crescimento). A partir daí, outros estágios deverão ser alcançados, como o perdão, a pacificação, o desprendimento e, aos mais preparados, a renúncia.
Nos apresentamos pretensiosos e estúpidos quando queremos transformar o mundo e as pessoas repentinamente, antes mesmo de agirmos com as mais elementares noções de equilíbrio emocional. Da mesma forma, não desfrutaremos de júbilos espirituais mais refinados e apreciação intelectual mais exata da Verdade, se não formos, aos poucos, superando defeitos triviais.
O Espírito Chiquito de Morais, pela cristalina psicografia de Chico Xavier, expõe em poucas palavras esta sabedoria fundamental:
Honrar pequeninas coisas
É o processo em que te engrenas
Para fazer grandes coisas
Como se fossem pequenas. *
O pouco é ingrediente para o muito. Ao compreendermos semelhante realidade, adquirimos leveza e lidamos com os servicinhos mais singelos do cotidiano com o esmero de um artista e a alegria de uma criança.
* Livro: Orvalho de Luz. Francisco Cândido Xavier, por Espíritos Diversos. CEC – Comunhão Espírita Cristã. Uberaba (MG), 1989. 9ª edição, pág. 28.