Despertando
Pai João
Transitando pelas veredas da vida, se bem atentarmos, iremos reconhecer inumeráveis criaturas que, a passos nervosos, jornadeiam conosco neste planeta de provas e expiações, denunciando, através das palavras, atitudes e ações, os seus desejos insaciáveis pelo prazer, pela moeda e pela glória que suas almas transportam, há longos evos, durante o percurso bendito das sucessivas encarnações.
Seus olhos ansiosos, seus ouvidos impacientes, suas mãos agitadas, procuram, sem cessar, os tesouros do mundo, na vã esperança de poderem deleitar-se com suas fugazes e coloridas cintilações, transformando os seus sonhos na mais feliz das realidades.
Dirigindo seus olhares para frente, sem nunca encaminhá-los para os lados e, muito menos, para trás, enfeitiçadas pelo querer incontrolável, insensível aos apelos do coração, como se não tivessem um só instante a perder, nada enxergam, nada escutam, nada sentem, a não ser o que, avidamente, desejam.
Assim, deixam-se conduzir pelos instintos inconsequentes, delatando o egoísmo pertinaz que as enregela e empobrece, distanciando-as da paz, retardando o divino encontro com Jesus.
Porém, os ponteiros do relógio da vida, incansáveis, continuam a girar, mostrando as horas passarem, denunciando o tempo, implacavelmente, transcorrer.
Um dia, entretanto, estes mesmos seres humanos, principiam a notar que seus olhos, já não possuem o brilho de outrora, não conseguindo mais vislumbrar os horizontes com a mesma nitidez; que os seus ouvidos, não mais detectam os sons cativantes do mundo que, antes, os deliciavam; que os seus braços e suas mãos, não demonstram mais a mesma energia e agilidade dos tempos passados; que os seus cabelos, foram cobertos pela neve dos anos, e que todo o seu ser, não mais espelha o viço da juventude.
É a vida, impondo as suas regras, intentando fazê-los refletir sobre o passado e projetarem o futuro, ensejando-lhes preciosa oportunidade para corrigirem os seus passos, alterando as suas rotas.
Apesar de reconhecerem que não são mais os mesmos, permanecem pelejando em busca dos antigos sonhos que, teimosamente, continuam a acalentar.
A marcha das horas prossegue, impassível, o seu trajeto e eis que, tempos depois, desiludidos, com suas próprias quimeras, exauridos, assentam-se à beira da estrada em que, há tantos anos trafegam, pondo-se, finalmente, a meditar.
Estes seres humanos, ao olharem, pela primeira vez, para os lados e para trás, passam a enxergar com os olhos da alma, criaturas amoráveis que, humildemente, sem se fazerem notar, de há muito, os acompanham, ajudando-os a tentarem alcançar os objetivos a que se propuseram.
Estas doces criaturas, interagindo com o mais sincero e despretensioso sentimento, cheias de coragem e abnegação, renunciaram a si mesmas, tendo como único objetivo o de poderem desfrutar a companhia daqueles a quem tanto amam e, quiçá, um dia, sentirem-se, por eles, reconhecidas e amadas, também.