Doação de órgãos: um gesto de amor
da redação
Na segunda-feira, dia 25 de janeiro, uma manchete do Jornal Nacional, mereceu alguns instantes de nossa atenção. No meio de tantas catástrofes, crises e outros assuntos pessimistas, uma notícia que encheu nossos olhos de esperança e alegria: Rafael, um rapaz de 22 anos, vítima de um tumor no cérebro, sabendo que poucos meses lhe restavam de vida na Terra, esqueceu por alguns instantes de seu problema e direcionou seu amor ao próximo, pedindo a seus familiares que doassem todos os seus órgãos após seu desencarne. Resultado: com esse simples gesto de amor e despreendimento, trouxe novas esperanças a sete pessoas que aguardavam, ansiosamente, por um doador.
Essa é a realidade que atinge milhares de pessoas por todo o Brasil. Só no Estado de São Paulo, cerca de 100 pessoas aguardam um transplante de coração, pulmão ou fígado, mais de 500 esperam por um rim, enquanto que mais de 10 mil aguardam por uma doação de córnea.
Visando aumentar o número de doadores em todo o Brasil, o Governo sancionou, em 04/02/97, a Lei n.º 9.434, que determina que, em caso de morte encefálica (condição em que apenas o cérebro pára de funcionar, mas todos os outros órgãos continuam vivos), todas as pessoas são consideradas doadoras, a não ser que registrem na carteira de identidade ou de motorista a opção pela não doação de seus órgãos.
Entretanto, esta medida não vem surtindo o efeito desejado. Em São Paulo, por exemplo, 61% dos novos documentos emitidos, trazem a inscrição “Não Doador”.
E como a nossa Doutrina vê essa questão? O que os espíritos dizem a esse respeito?
TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS SEGUNDO CHICO XAVIER
Buscando um enfoque espírita para o assunto “doação de órgãos”, surpreendemo-nos com as diferentes opiniões a respeito deste polêmico assunto: embora a maioria seja favorável a tal prática, muitos ainda são contrários, alegando o risco de ocorrer eutanásia (uma vez que, para a retirada dos órgãos, considera-se apenas a morte cerebral da pessoa) ou por acharem que isto poderá interferir na programação da espiritualidade superior. Felizmente, em meio a inúmeras pesquisas na Internet, encontramos uma entrevista de nosso irmão Francisco Cândido Xavier à antiga TV Tupi, na Comunhão Espírita Cristã, Uberaba (MG), em 05/08/68, a qual transcrevemos a seguir:
Qual seria, caro Chico Xavier, a opinião dos espíritos sábios acerca dos transplantes de órgãos?
FCX – Eles dizem que isso é um problema da Ciência muito legítimo; assim como utilizamos o motor de um carro com os demais implementos estragados em um outro carro que esteja com seus implementos perfeitos mas com o motor inutilizado. Não podemos comparar o homem com o automóvel, mas podemos adotar o símile para compreender que o transplante de órgãos é muito natural e deve ser levado adiante.
Os espíritos acreditam que o transplante de órgãos seja contrário às leis naturais?
FCX – Não. Eles dizem que, assim como nós aproveitamos uma peça de roupa que não tem utilidade para determinado amigo, e esse amigo, considerando a nossa penúria material, nos cede essa peça de roupa, é muito natural que, ao nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com proveito.
Dizem os espíritos que o corpo físico é uma duplicata do corpo espiritual; no transplante do coração, por exemplo, não haverá um choque entre a existência do órgão que permaneceu no perispírito ao lado do que foi substituído?
FCX – Por isso mesmo é que o nosso amigo André Luiz considera a rejeição como um problema claramente compreensível, pois o coração do corpo espiritual está presente no receptor. O órgão perispiritual, vamos dizer assim, provoca os elementos da defensiva do corpo, que os recursos imunológicos em futuro próximo, naturalmente, vão suster ou coibir.
Que pensar da situação do doador de órgãos, no momento da morte, uma vez que seu instrumento físico se viu despojado de parte importante?
FCX – É o mesmo que sucede com uma criatura que cede os seus recursos orgânicos a um estudo anatômico, sem qualquer repercussão no espírito que se afasta de sua cápsula material. O nosso amigo André Luiz considera que, exceptuando-se determinados casos de morte em acidentes e outros casos excepcionais, em que a criatura necessita daquela provação, ou seja, o sofrimento intenso no momento da morte, esta de um modo geral não traz dor alguma porque a demasiada concentração do dióxido de carbono no organismo determina anestesia do sistema nervoso central. Ele explica que o fenômeno da concentração do gás carbônico no organismo altera o teor da anestesia do sistema nervoso central provocando um fenômeno que ele chama de acidose. Com a acidose vem a insensibilidade e a criatura não tem estes fenômenos de sofrimento que nós imaginamos. O doador, naturalmente, não tem, em absoluto, sofrimento algum.
Qual a situação de um doador de órgãos após a intervenção cirúrgica, uma vez constatada a sua desencarnação?
FCX – É uma situação pacífica, porquanto o fenômeno é igual ao daqueles amigos nossos, às vezes jovens, que serão amanhã grandes médicos, grandes anônimos, benfeitores da Humanidade, que cedem as suas vísceras a uma sala de anatomia para benefícios dos cientistas.
Os espíritos falam que uma pessoa que esteja sofrendo agora, está a resgatar faltas do passado; no caso de um transplante de órgãos como este, terá obtido o enfermo um novo merecimento?
FCX – No caso do receptor, sim. Ele terá adquirido uma sobrevida, determinando moratória de extraordinário valor para ele. É uma sobrevida extraordinária para uma criatura que tem muitos assuntos a realizar e que, com um mês, com vinte dias, pode solucionar enormes problemas e partir com muita serenidade, muita alegria, para o mundo espiritual.